COMO CUMPRIR AS SUAS OBRIGAÇÕES PARA PROTEGER OS TRABALHADORES EM ESPAÇOS CONFINADOS
Os profissionais de saúde e segurança têm um papel importante a desempenhar para garantir que são tomadas todas as precauções necessárias para proteger os trabalhadores, e este guia técnico oferece conselhos práticos sobre como realizar estas tarefas em cinco passos fáceis.
O guia não apenas abrange a legislação que os empregadores e os profissionais de segurança devem cumprir, mas também explica algumas medidas não normativas, mas complementares, que podem ser tomadas antes de um trabalhador aceder a um espaço confinado
Passo 1: Conheça as suas obrigações legais
Em primeiro lugar, os empregadores e os profissionais do sector da saúde e segurança cujos trabalhadores operam em espaços confinados precisam de conhecer as suas obrigações legais. Assim, garante-se que os riscos são minimizados ao cumprir os requisitos básicos de segurança. Atualmente, a UE não dispõe de uma regulamentação comum única para o trabalho em espaços confinados. No entanto, existem algumas directivas que estabelecem requisitos mínimos para garantir a protecção contra alguns dos riscos dos espaços confinados.
A Directiva 89/654/CEE, relativa aos requisitos no local de trabalho, obriga os empregadores a garantir “que há suficiente ar fresco nos locais de trabalho fechados, tendo em conta os métodos de trabalho utilizados e as exigências físicas impostas aos trabalhadores”, ao passo que a Directiva 92/57/CEE, relativa às obras temporárias ou móveis, obriga os empregadores a:
• “6.2 No caso de alguns trabalhadores terem de entrar numa área cuja atmosfera possa conter substâncias tóxicas ou nocivas, ou não ter oxigénio suficiente ou ser inflamável, a atmosfera confinada deve ser controlada e devem ser tomadas medidas adequadas para evitar qualquer perigo.
• 6.3 Os trabalhadores não poderão, em caso algum, ser expostos a uma atmosfera confinada de alto risco. Deve, pelo menos, estar sob permanente vigilância externa e todas as precauções devem ser tomadas para que lhe possa ser prestada ajuda eficaz e imediata.
Há também uma legislação de segurança mais ampla para garantir que a propriedade toma todas as medidas necessárias para proteger os trabalhadores em qualquer ambiente, incluindo espaços confinados. A Directiva 89/391/CEE - OSH (Macro-Directiva) estabelece os princípios gerais de prevenção para proteger a saúde e a segurança dos trabalhadores em todos os aspectos do seu trabalho, incluindo os requisitos que são claramente relevantes para os espaços confinados:
• Adoptar “as medidas necessárias em matéria de primeiros socorros, combate a incêndios e evacuação de trabalhadores” e as acções necessárias em caso de perigo grave e iminente.
• Tomar as medidas adequadas para garantir que só os trabalhadores que tenham recebido instruções adequadas possam aceder às áreas em que há perigo grave e iminente
Alguns países europeus deram um passo em frente na protecção dos trabalhadores em espaços confinados, adoptando legislação regional específica.
Por exemplo, em Espanha, o REAL DECRETO 604/2006 introduziu a presença obrigatória de recursos preventivos nas ações a realizar em espaços confinados. De acordo com o disposto no artigo 8.º da Lei de Prevenção de Riscos Laborais, o Instituto Nacional de Segurança e Higiene no Trabalho é o órgão técnico científico especializado da Administração Geral do Estado que tem por missão a análise e estudo das condições de trabalho. e saúde no trabalho, bem como a promoção e apoio à sua melhoria. O Instituto Nacional de Segurança e Higiene no Trabalho estabelece que em qualquer intervenção em espaço confinado devem ser adotadas pelo menos todas as seguintes medidas preventivas:
1. Medição e avaliação de risco da atmosfera interna antes de entrar no espaço confinado.
2.As pessoas que entram devem dispor de um medidor ambiental contínuo, de uma máscara de auto-resgate e de um meio de comunicação permanente com o exterior.
3.Favorecer a ventilação natural abrindo todas as aberturas e a ventilação mecânica soprando ar pela parte inferior. Se necessário, limpar o espaço de fora.
4.Aislamiento total da área de intervenção: limitar o acesso exclusivamente às pessoas que devem atuar e consignar os fluidos e energias acessíveis do exterior.
5. A equipa de intervenção deve ser constituída por, pelo menos, duas pessoas, uma das quais deve ser recurso preventivo e permanecer permanentemente no estrangeiro.
6.Disponer de um sistema de resgate (arnês e sistema de elevação) que permita ações se necessário.
7. Todas as ações devem ser previamente autorizadas pela pessoa designada para controlar a execução dos trabalhos especiais e ser realizadas de acordo com procedimento previamente estabelecido.
Passo 2: Avalie o risco
Tal como é claramente descrito na legislação anterior, a opção mais segura é evitar sempre entrar num espaço confinado. Tendo isto em conta, é importante avaliar se uma tarefa pode ser executada corretamente do exterior do espaço confinado. Por exemplo, pode ser possível limpar a área usando água sob pressão, vapor ou ferramentas com mangueiras prolongadas, ou para remover bloqueios em silos usando dispositivos giratórios operados remotamente e purgadores de ar. No entanto, se a entrada num espaço confinado for inevitável, uma avaliação do risco é um passo importante para proteger os trabalhadores e para cumprir a lei. Os riscos devem ser reduzidos ao mínimo razoavelmente possível” e a avaliação dos riscos é o primeiro passo para atingir este requisito. Uma avaliação dos riscos ajuda a assegurar que os riscos significativos, aqueles com potencial para causar danos reais, são considerados, ao mesmo tempo que os riscos menores também são reconhecidos. Os seguintes factores devem ser considerados:
• A condição geral do espaço confinado (por exemplo, resíduos químicos, contaminação de uma planta adjacente, coletores de gás ou terreno circundante, deficiência/enriquecimento de oxigênio, dimensões e layout).
• Riscos associados ao trabalho (por exemplo, produtos químicos de limpeza que podem interagir com a atmosfera do espaço confinado, fontes potenciais de ignição, como soldagem, calor ou atividades de trabalho extenuantes, podem afetar o conforto térmico do trabalhador).
• Perigos provenientes do exterior (substâncias como líquidos, gases, vapor, água, matérias-primas provenientes de processos e serviços próximos).
• Requisitos para resgate de emergência (por exemplo, equipamentos e medidas necessárias para resgate de funcionário).
Uma avaliação de risco considera a probabilidade de um perigo se tornar um acidente em relação às consequências desse acidente. Com base nos resultados da avaliação, são tomadas ações corretivas para reduzir o risco, tais como:
• Supervisão
• Competência para trabalho em espaços confinados
• Comunicação
• Teste/monitorização da atmosfera
• Purga atmosférica
• Ventilação
• Remoção de resíduos
• Isolamento de gases, líquidos e outros materiais flutuantes
• Isolamento de equipamentos mecânicos e eléctricos
• Selecção e utilização de equipamento adequado
• EPI (equipamento de protecção individual), PFPE (equipamento de protecção individual contra quedas) e RPE (equipamento de protecção respiratório)
• Cilindros de gás portáteis e motores de combustão interna
• Gás fornecido por tubos e mangueiras
• Acesso e retorno
• Prevenção de incêndios
• Luzes
• Eletricidade estática
• Fumo
• Emergências e resgate
• Tempo de trabalho limitado
O documento de referência da avaliação de riscos é obrigatório para todas as empresas e deve ser revisto anualmente ou quando as condições de trabalho e as características da empresa mudam.
Um processo de cinco passos é frequentemente utilizado para avaliações de riscos. Lembre-se de que uma avaliação de riscos não é simplesmente um documento criado para manter o registro, identifica o que precisa ser alterado, se houver, antes de ser seguro começar a trabalhar.
Para perigos em constante mudança, como a velocidade do vento, é comum utilizar uma avaliação de risco “dinâmica”, que estabelece uma série de condições permitidas sob as quais o trabalho pode ser realizado. Fora deste intervalo, o trabalho é interrompido e uma avaliação formal é repetida.
Dependendo dos riscos envolvidos, pode também ser considerado um procedimento de "permissão para trabalhar". Isto garante que, antes de um trabalhador poder entrar num espaço confinado, é feita uma verificação formal para confirmar que todos os elementos de um sistema de trabalho seguro estão disponíveis.
Passo 3: Formação
Como foi mencionado anteriormente, a formação é um elemento-chave de um sistema de trabalho seguro. É também uma obrigação legal na UE e, em países como o Reino Unido, estende-se aos contratados temporários ou indivíduos autónomos que operam sob o controlo e a direcção da empresa. Esta é uma consideração importante, uma vez que não é incomum que contratantes temporários, que não tenham recebido formação adequada, realizem tarefas como limpeza ou manutenção em espaços confinados. Tendo isto em conta, ferramentas de aprendizagem flexíveis e acessíveis ajudam a garantir que podem ser rapidamente e facilmente treinados para trabalhar com segurança em espaços confinados.
O empregador tem a obrigação de preparar instruções de utilização e fornecer formação adequada. Os trabalhadores são obrigados a utilizar o equipamento de protecção individual que lhes é fornecido, a seguir as instruções e a notificar qualquer falha do equipamento.
Outra consideração importante quando se trata de treinamento em espaços confinados é a tecnologia. Por exemplo, os simuladores de operações de realidade virtual (VR) proporcionam aos trabalhadores uma experiência credível e realista, ajudando-os a reter o que aprenderam ao praticar tarefas num ambiente virtual 3D imersivo que simula os riscos de trabalhar num espaço confinado.
Além disso, a integração de reconhecimento de voz e um ecrã de realidade aumentada (AR) ligado aos capacetes pode fornecer aos trabalhadores treinamento em demanda e acesso a planos ou manuais para concluir seu trabalho de forma segura e rápida sempre. Isto é vital para os trabalhadores que operam num espaço confinado onde ter um livro ou manual de formação à mão pode não ser possível.
Passo 4: Proteção
Quando vão entrar num espaço confinado, os trabalhadores devem dispor de um equipamento de proteção individual adequado, de modo a serem protegidos contra os perigos identificados durante a avaliação dos riscos.
A Directiva 89/656/CEE (sobre a utilização de EPI) exige que os empregadores forneçam aos trabalhadores EPI adequados sempre que os riscos não possam ser evitados ou suficientemente limitados por meios técnicos de protecção colectiva ou procedimentos de organização do trabalho. Em geral, todos os EPI utilizados devem:
• Ser adequados aos riscos envolvidos, sem gerar riscos maiores.
• Corresponder às condições existentes no local de trabalho.
• Ter em conta os requisitos ergonómicos e o estado de saúde do trabalhador.
• Ajustar adequadamente ao utilizador após qualquer ajuste necessário.
É importante lembrar que condições de altas temperaturas em espaços confinados podem levar a um aumento perigoso da temperatura corporal, que pode ser agravado pelo uso de EPI. Portanto, o conforto é tão importante quanto a qualidade na seleção de EPI para tais aplicações. É por esta razão que é sempre recomendável contar com um fornecedor de confiança que possa ajudá-lo a especificar um EPI totalmente adequado à sua finalidade.
Tal como demonstrado no documento técnico “Conhecer os riscos associados ao trabalho num espaço confinado”, os espaços confinados apresentam múltiplos riscos, pelo que, na maioria dos casos, um trabalhador terá de usar EPI diferentes.
Além dos EPI habituais, como
• Roupa de trabalho
• Capacete
• Calçado de segurança / botas
• Luvas
• Colete de alta visibilidade
Aplicações em espaços confinados exigem equipamento de protecção específico
- 4 detectores de gás e gás único (NH3, ozônio, cloro)
- Arnês de segurança
- Equipamentos de segurança em descida
- Dispositivos de comunicação ATEX (rádio, walkie-talkie, etc.)
- Aparelhos respiratórios de escape e/ou de trabalho
- Lâmpada frontal ou portátil ATEX
Aplicações em espaços confinados exigem equipamento de protecção específico
DETECTORES DE 4 GASES E GÁS ÚNICO (NH3, OZONO, CLORO) APARELHOS RESPIRATÓRIOS DE ESCAPE E/OU DE TRABALHO
Você também pode considerar o uso de EPI que integre monitores biométricos para obter conhecimento abrangente em tempo real sobre o estado de saúde de um trabalhador.
Dado que a deficiência de oxigénio ou a exposição a gases tóxicos representam ameaças reais em espaços confinados, equipar os trabalhadores com detectores de gases portáteis também é essencial.
Em termos gerais, existem dois tipos de sensores utilizados para detecção de gás: Sensores genéricos, que monitoram condições como inflamabilidade e reagem a qualquer gás que forme uma mistura explosiva com o ar. Sensores de gás específicos detectam apenas um componente químico e são usados para monitorar o nível de oxigênio, sulfeto de hidrogênio ou metano.
Alguns dos detectores de gás mais recentes integram a tecnologia Bluetooth® para conectar-se a um smartphone industrial com certificação ATEX e transmitir automaticamente leituras de gases tóxicos em tempo real. Desta forma, um diretor de segurança pode, por exemplo, alertar imediatamente um trabalhador que opera num espaço confinado para sair se os níveis de concentração de gás atingirem limites perigosos.
Etapa 5: resgate
A evidência mostra que a maioria das mortes em espaços confinados são causadas pelos socorristas, por isso protegê-los de forma mais eficaz é tão importante quanto ter um plano de socorro eficaz. O primeiro passo deve ser sempre adoptar um sistema de comunicações adequado para que os socorristas possam confiar numa informação clara e precisa sobre o ambiente e o estado do trabalhador antes de entrarem num espaço confinado. Uma ferramenta que pode ser considerada neste caso é a tecnologia de controlo de movimento.
Por exemplo, a maioria dos detectores de gás portáteis mais recentes apresenta alarmes de homem caído que permitem melhores decisões sobre como resgatar trabalhadores e potencialmente evacuar outras pessoas que possam estar em risco. Além disso, com acesso a leituras de gases em tempo real, os socorristas podem tomar decisões informadas sobre coisas como o tipo de EPI a usar antes de entrar em um espaço confinado. A mídia deve ser organizada no espaço confinado antes de entrar, o que inclui:
• Comunicação via rádio
• Comunicação oral
• Comunicação visual
• Por ancoragem
O método de comunicação mais prático é a radiocomunicação, embora este tipo de comunicação possa apresentar falhas de recepção em algumas estruturas. Além disso, os trabalhadores têm de chegar a acordo sobre um código de comunicação em circunstâncias degradadas para utilizar em caso de acidente, que pode ser palavras codificadas, sinais sonoros ou outros sinais.
O tempo gasto nas necessidades de resgate também tem de ser determinado tendo em conta o estado da vítima e o ambiente. A segurança do socorrista é importante para a vítima, de modo que devem ser tomadas precauções de segurança para a operação de resgate, mesmo que isso afecte o tempo de resgate.
Resumo
Trabalhar num espaço confinado envolve múltiplos riscos, pelo que os empregadores e os profissionais de saúde e segurança precisam de tomar muitas precauções diferentes para proteger os trabalhadores que operam nesses ambientes. Este guia técnico ilustrou que, embora exista legislação em vigor a nível da UE e a nível nacional para garantir que os empregadores cumpram os requisitos mínimos de segurança quando um trabalhador tem acesso a um espaço confinado, existem outras medidas importantes que podem ser tomadas. e os socorristas sejam devidamente treinados e utilizem equipamentos totalmente adequados para a tarefa